Guia da Semana

Quem nunca teve vontade de explodir (literalmente) algum equipamento burocrático do governo? Colocar veneno na comida daquele político que deixou sua família na miséria? Desejos comuns, mas reprimidos pelo bom senso, como esses, tornam-se realidade no tragicômico “Relatos Selvagens”, filme de Damián Szifrón que representa a Argentina no Oscar 2015 e abre a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, antes de estrear no dia 23 de outubro.

Como todo bom filme argentino de olho no mercado internacional, “Relatos” traz no elenco o pop-star Ricardo Darín. É ele que trabalha com explosivos e se revolta, no caso, contra as injustiças do sistema de trânsito. Mas ele não é o único protagonista – o longa é dividido em seis histórias curtas, cada qual com seus “selvagens”.

Já na introdução, um avião é palco de histeria quando os passageiros descobrem que têm, todos, uma misteriosa semelhança. Esta primeira história – talvez a mais curta de todas – prepara o terreno com uma mistura equilibrada de humor, suspense e horror, como se avisasse ao espectador que o que está por vir não é “sério” – mas vai mexer com instintos bastante reais.

Instintos como o desejo de vingança de uma noiva traída, interpretada por Erica Rivas. Ao suspeitar do caso no meio da festa de casamento, a personagem chora e pensa em fugir, mas, depois, rende-se à fúria e saboreia a loucura do momento.

Os episódios têm temas muito diferentes, mas se encontram no descontrole de seus personagens, que reagem a problemas típicos do homem contemporâneo – uma briga de trânsito, uma negociação ilícita, a arte de tirar vantagem de qualquer situação.

Suas tragédias puxam algumas orelhas e convidam a olhar o mundo com olhos mais críticos – mais tolerantes para algumas coisas, menos para outras. Apesar disso, o filme não pesa e provoca risos sinceros em quase todas as desventuras. Produzido por Pedro Almodóvar, “Relatos Selvagens” tem algo do humor negro do diretor espanhol, somado à vocação sociológica do cinema argentino. É uma receita infalível.

Assista se você:

  • É fã de filmes argentinos
  • Quer ver um filme crítico, mas engraçado
  • Quer refletir sobre as loucuras que a vida em sociedade causa

Não assista se você:

  • Não gosta de filmes divididos em pequenas histórias
  • Não gosta de filmes argentinos
  • Não gosta de humor negro

Por Juliana Varella

Atualizado em 3 Fev 2015.