Guia da Semana

Trave pra nóis era tijolo ou de chinelo, nave era Opala, não Camaro amarelo”. Em tempos onde ostentar é atrair os holofotes, as rimas sobre a infância, que vão na contra mão na era onde ter é mais importante que ser, soam nostálgicas, até saudosistas. Pois são esses os temas que mais aparecem nas letras de Bino, rapper da região do ABC Paulista, que faz questão de falar sobre o que conquistou com seu próprio suor.

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Entre o trabalho de publicitário e o tempo que tira para criar seu som, Bino – ou Vinícius – encontrou um tempo para conversar com o Guia e falar um pouco mais do seu trabalho, além de comprovar que existe espaço para o rap em São Paulo e indicar lugares bacanas para quem curte o estilo.

Guia da Semana - Como você começou a se interessar pelo rap?

Bino - Vou ir um pouco além, quando comecei a ouvir rap. Quando pivete, pra ouvir rap onde eu sempre morei, não era necessário gostar (risos), tocava o dia todo no carro ou no som dos vizinhos próximos, eu passava o dia na rua, fazendo coisas de moleque, futebol, pipa, pião, taco, e essa sempre era a trilha, mas sempre gostei sim.

- Bino é apelido ou sobrenome?

Apelido. Diz a lenda que rolava uma novela quando eu ainda era criança e tinha uma personagem chamada "Bininha", não parecia comigo nem nada, mas meu tio Robson começou me chamar de Bininha, e pegou, de Bininha para Bininho, e finalmente Bino.

- Sobre o que suas letras falam?

Eu falo sobre o que vivo e vivi nesses meus 24 anos, as inspirações são várias, desde amigos que perdi pro crime, pra droga, até amores perdidos, saudade dos que se foram e também de coisas boas que vivi, uso a música para trazer uma sensação nostálgica boa. Como no vídeo de Bagunça, várias pessoas de várias idades vêm comentar que eu cantei suas vidas, isso não tem preço, mas muito valor. (Conheça o canal de Bino no Youtube)

- O que você pensa sobre o tema ostentação, que tanto tem se falado ultimamente?

Eu penso que a grande maioria que critica, se tivesse nas condições, faria pior. A maioria critica mas posta foto no Instagram segurando garrafa de Vodka de 100 reais. Isso quer dizer que você só não ostenta mais porque não tem mesmo (risos).

Eu não vejo problema em o Mc Guimê cantar que "Eu tenho isso eu tenho aquilo, conquistado com trabalho digno" pelo contrário, eu apoio, ele mostra que é possível vencer, conquistar e realizar seus sonhos, de forma honesta. Eu sou contra o funk que diz que conquistou tal coisa com o crime, mas são poucos, a maioria canta e mostra que conquistou trabalhando, cantando funk mesmo.

- Você acha que existe espaço em São Paulo para o rap?

Tenho certeza, tanto que está aí há décadas, a cada dia conquistando mais espaço. Hoje o Rap não está só na periferia, o filho do bacana também ouve Rap no seu triplex, o Rap em São Paulo está forte, está tocando em todos os lugares, nas ruas, nas festas, tanto as da quebrada quanto as do público com maior poder aquisitivo.

- Quais são suas inspirações?

Na música são várias desde rock - Raimundos, Chalie Brown, Limp Bizkit, Incubus – até rap, como Racionais, Simples, Pentágono, e também MPB - Jorge Ben, Chico, Elis. E no funk, tão odiado por muitos, Guimê e Lon.

- Você também trabalha como publicitário. Você relaciona uma profissão com a outra de alguma forma? Ou são trabalhos totalmente diferentes?

Sou formado em Publicidade e trabalho com isso há quase 3 anos na mesma empresa, todos sabem que sou rapper, quando saiu meu CD todos compraram. Festas do trampo sempre rola aquele "Faz uma rima aí, Bino" (risos), mas são coisas bem diferentes na real, na área da publicidade meu trabalho é lidar números e cálculos... No Rap minha tarefa é rimar, passar uma mensagem e entreter, é diferente, mas amo os dois.

- Você gostaria de algum dia viver apenas do rap? Hoje em dia é inviável?

Sim! Gostaria e sonho com isso, vivo a realidade, mas sei que nessa realidade isso é sim possível. É viável, podemos ver vários mcs que vivem disso hoje, não são podres de ricos, mas vivem, geram empregos e estão na corrida da vida, eu viveria isso e estou em busca, cheguei a tirar com rap em um mês, talvez o dobro do meu salário como publicitário, mas isso varia, teve mês que não tirei nem 500 mangos.

- O que você já conquistou com sua música e o que mais gostaria de conquistar?

Conquistei admiração do público. É mais que especial um pivete de 12, 13 anos te parar depois do show e falar que é seu fã. Durante o show você ver as pessoas cantarem de ponta a ponta aquilo que você escreveu e sentir que tem sentimento ali, ganhei respeito e o que considero mais importante, amigos, tenho amigos em todas as regiões de São Paulo.

- Você poderia indicar três lugares legais para quem curte rap em São Paulo?

Batalha do Santa Cruz: Com 8 anos de resistência, foi onde comecei a rimar, é um encontro dos amantes da cultura e rolam batalhas de mcs, bem legal e divertido para todos que buscam cultura e entretenimento.
Onde: na calçada do Metrô Santa Cruz.
Quando: todo sábado a partir das 20h30
Quanto: Grátis

Casa do Hip Hop de Diadema: Rolam encontros e oficinas, mas o melhor dia para conhecer a casa é no último sábado do mês, quando rola o "Hip-Hop em ação". Tem encontro de todas as vertentes do Hip-Hop, Djs soltando pancadas sonoras, Mcs rimando, B boys e B girls dançando, Graffiteiros pintando, rolam batalhas e tal, espaço muito legal também, está no coração.
Onde: Rua 24 de Maio, 38 - Jardim Canhema - Diadema
Quando: último sábado do mês a partir das 15h
Quanto:Grátis

Batalha da Matrix (essa vai pro pessoal do ABC e região): Fica no centro de São Bernando do Campo na praça da Igreja Matriz. Tem encontro da cultura Hip-Hop com batalha de Mcs, sempre cheio de amantes da boa rima, vale a pena.
Onde: Igreja Matriz – Centro – São Bernardo do Campo
Quando: toda terça-feira a partir das 20h30.
Quanto: Grátis

Por Marina Marques

Atualizado em 28 Jan 2014.