E se a câmera do seu computador pudesse filmá-lo agora, mesmo que você não estivesse transmitindo (conscientemente) nada? E se alguém, do outro lado do mundo, pudesse assistir? Você pensaria que é um hacker ou um criminoso. Certo? E se nós disséssemos que esse alguém estava fazendo isso com o aval e com os recursos do governo dos Estados Unidos?
Foi essa a verdade inconveniente que Edward Snowden revelou ao mundo em 2013, depois de trabalhar como contratado e terceirizado na agência de segurança americana, NSA, e também na CIA, e testemunhar o uso indiscriminado de acesso aos computadores e celulares pessoais pelos funcionários da casa.
Além de espionar o povo americano e de outros países (o Brasil aparece como o segundo país de onde a agência mais extraía informação) sob a justificativa da segurança, Snowden ainda apontou que o governo poderia, estrategicamente, chantagear um líder que não cedesse aos seus interesses ou provocar um apagão em cidades inteiras como ato de guerra.
Verdade ou paranoia, o fato é que o gênio da informática vazou documentos sigilosos e, desde então, tem vivido como refugiado em países como a Rússia. A mesma de quem os EUA prometera, com tanta desconfiança, proteger seus habitantes por meio da vigilância.
A história de Snowden já foi contada no documentário “CitizenFour”, de Laura Poitras, mas agora chega aos cinemas com uma abordagem mais hollywoodiana pelas mãos de Oliver Stone, na cinebiografia “Snowden – Herói ou Traidor”. No papel principal, está Joseph Gordon-Levitt, ao lado de Shailene Woodley, Rhys Ifans, Zachary Quinto, Tom Wilkinson e Melissa Leo.
O filme acompanha a trajetória do personagem, desde sua tentativa frustrada de servir o exército até a denúncia, feita a um seleto grupo de jornalistas num hotel em Hong Kong (incluindo Poitras). Como resultado, temos tanto uma história de vida interessante, sobre um jovem que abandonou sua própria liberdade para proteger a liberdade dos outros; quanto uma reflexão sobre o que a internet significa para o equilíbrio de poder no mundo, por trás da ilusão de transparência e acesso.
Não sei vocês, mas eu já cobri a câmera do meu computador.
Por Juliana Varella
Atualizado em 10 Nov 2016.