Guia da Semana

Às vezes, timing é tudo no cinema. De “Cinquenta Tons de Cinza” a “Cinquenta Tons Mais Escuros”, dois anos se passaram e o hype já não é o mesmo. Especialmente depois das reações mornas que teve o primeiro filme – quando a promessa de ousadia não se concretizou e, no lugar, o público encontrou algo mais parecido com uma comédia romântica com cenas de sexo um pouco mais elaboradas.

Ainda assim, “Cinquenta Tons de Cinza” era bem dirigido (pelas mãos de Sam Taylor-Johnson) e tinha um certo ritmo. Isso já não acontece na sequência, que estreia nesta quinta-feira (9) e deixa para trás o tom irônico e a trilha sonora pop para mergulhar de cabeça no romance absurdo do casal protagonista. Agora, até as situações mais banais são tratadas com seriedade e há uma insistente trilha de suspense que tenta convencer o espectador de que este é um thriller, e não uma bizarra novela mexicana com direito ao drink derramado, tapa no rosto e troca de baixarias numa festa de gala (sim, tudo isso acontece).

Já nos primeiros minutos, a natureza abusiva da relação salta à tela: Christian Grey (Jamie Dornan) vai a uma exposição fotográfica e compra todos os retratos de Anastasia Steele (Dakota Johnson) porque, nas suas palavras, “não quer ninguém olhando para ela”. Isso não é romântico, é apenas doentio, e os olhares de Steele sugerem que ela sabe disso.

Ainda assim, a personagem aceita dar mais uma chance ao namorado, só para se arrepender no minuto seguinte, quando ele transfere um dinheiro não-requisitado para a sua conta e considera comprar a empresa onde ela trabalha - ameaçando todo o esforço que ela tem feito para conquistar sua independência financeira e ser reconhecida como profissional. Longe de uma ser prova de amor, essa atitude só tem o objetivo de garantir que ela nunca mais divida o escritório com outro homem.

O problema, aqui, não é que o filme mostre um homem sendo possessivo, mas sim que a audiência entenda isso como amor. Enquanto no longa anterior (não por acaso escrito e dirigido por mulheres) o relacionamento dos dois se construía a partir do choque entre duas visões, dois sentimentos e duas expectativas; neste a relação é totalmente unilateral. Grey quer controlar a parceira não apenas na cama, mas também na vida pessoal, profissional e até nas suas escolhas de vestuário. Ela, por sua vez, só quer ter a permissão para conhecer seus segredos e não ser espancada. Não sei vocês, mas me parece um pouco desproporcional...

Cinquenta Tons Mais Escuros” é dirigido por James Foley (“Caminhos Violentos”) e tem roteiro de Niall Leonard – marido da autora E.L. James, que assumiu o lugar de Kelly Marcel após conflitos no primeiro filme. Como mostra uma cena pós-créditos, a dupla já trabalha no episódio final, “Cinquenta Tons de Liberdade”, previsto para 2018.

Assista:

- Se você gostou dos livros;

- Se você gosta de filmes água-com-açúcar;

- Se você quer saber o que acontece com Anastasia Steele e Christian Grey.

Fuja:

- Se você não gostou dos livros;

- Se você gostou do primeiro filme por ter um toque de humor;

- Se você não quer ver uma relação abusiva ser tratada como uma história romântica.

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Por Juliana Varella

Atualizado em 9 Fev 2017.