Guia da Semana

Eles estão na contramão das cidades em constantes transformações. Com produtos de qualidade, atendimento personalizado e tradição, muitas casas são patrimônios tombados e recebem diferentes gerações de fregueses, sem nunca deixar a qualidade de seu cardápio de lado. Rivalizando com os novos estabelecimentos, esses bares, restaurantes e padarias vão além do simples serviço: conservam suas estruturas com a aposta numa clientela saudosista, exigente e em receitas consagradas, que remontam aos tempos do império.

E para quem visita, é uma ótima oportunidade de conhecer a arquitetura e personagens, enquanto saboreia petiscos, massas e doces criados por seus fundadores. Veja abaixo os estabelecimentos centenários e suas especialidades em São Paulo e Rio.

São Paulo

Carlino - 1881

Foto: site oficial

Aberta pelo imigrante italiano Carlos Cecchini, o mais antigo restaurante paulista tem 128 anos e está em seu terceiro dono. Fechou entre 2002 e 2005, e reside atualmente num salão na Vila Buarque. Entre o público saudosista, famílias trazem seus descendentes para conhecer o ambiente, como se fosse a extensão de sua casa. O jogador Leônidas da Silva, conhecido como Diamante Negro, era um assíduo frequentador. O esportista apreciava degustar pratos como o ossobuco com risoto milanês ou o rigatone ao gorgonzola e frutos do mar. "Fico no restaurante 12 horas por dia e ainda me sobra tempo para fazer pratos para festas fora da casa", realça o dedicado dono Antônio Carlos Marinho.

Padaria Santa Tereza - 1872

Foto: divulgação

Fundada pelas famílias portuguesas Vaz e Teixeira, a padaria pegou emprestado o nome da rua onde se instalou até meados da década de 40. Em 1947, mudou-se para a Praça João Mendes, onde está até os dias atuais. Para atender as exigências do público sem ficar para trás, hoje em dia trabalha também com restaurante e bar. Os donos apostam na inovação, sem deixar de lado a tradição. Entre os carros-chefes, a coxa creme é apreciada diariamente por cem clientes e no inverno são consumidos cem porções de canja ao dia.

Cantina Capuano - 1907

Foto: site oficial

No tradicional bairro italiano da Bela Vista, o imigrante Francesco Capuano montou sua cantina simples. "Era um cardápio único, com três opções de pratos, em um jantar limitado e com horário para acabar. Quando meu pai comprou em 1961, ampliou e colocou mais variedades de molhos para uma clientela mais vasta", afirma a dona Elisabetta Gagliardi. Embora tenha modernizado, a casa não dispensa o fusili ao sugo (feito à mão), o cabrito à pizzaiola e a calabresa seca, receitas originais que atravessam gerações. E para animar o ambiente, o fim de semana ganha o som da tarantela no restaurante mais antigo em funcionamento ininterrupto da cidade.

Rio de Janeiro

Café Lamas - 1874


Foto: site oficial

Imagine experimentar a canja predileta de D. Pedro I ou o bolinho de bacalhau de Machado de Assis? O centenário restaurante carioca nasceu ainda no século 19 e desde então reúne a boemia carioca, artistas, jornalistas, políticos e intelectuais. A casa frequentada por gerações funciona 24 horas, servindo 500 refeições diárias. O cardápio é variado: carnes, peixes e frutos do mar, além de oferecer o famoso café da manhã. A poucas quadras do Catete, o restaurante era o ponto de parada obrigatória de Getúlio Vargas, para o seu chá das cinco. O carro-chefe é o filé mignon, com 60 anos de tradição. Milton Brito, sócio do estabelecimento há 27 anos, aponta a receita de sucesso. "Aqui os garçons conhecem os clientes e tratam de uma maneira bem intimista. Eles acabam voltando pela qualidade do atendimento".

Bar Luiz - 1887

Foto: divulgação

Antes mesmo do nosso país virar república, o estabelecimento foi o pioneiro a trazer o chope que circulava dentro de uma serpentina imersa no gelo para acompanhar as salsichas alemãs. Quando tinha o nome de Bar Adolph, em homenagem ao dono, quase foi depredado por estudantes indignados com o nazismo, em razão da II Guerra Mundial. Por fim ganhou o nome atual. Embora ofereça o serviço de restaurante, nunca dispensou o rótulo de boteco, sendo conhecido por seus aperitivos, como petiscos de salsicha e joelho de porco. "Oferecemos atendimento personalizado e temos cuidado especial em receber, armazenar e servir o chope. Tudo isso torna nossos clientes fieis", ressalta Oton Santos, gerente há 25 anos. Entre os pratos mais pedidos, há especialidades alemãs como o par de kassler com salada de batatas.

Confeitaria Colombo - 1894

Foto: divulgação

Situado no centro histórico do Rio de Janeiro, o café-restaurante com arquitetura da art noveau é um ponto obrigatório para se reviver a belle époque da antiga capital republicana. O prédio tombado pelo patrimônio histórico fica na rua Gonçalves Dias, foi fundado há 105 anos por imigrantes portugueses e recebeu diversas personalidades desde sua abertura: Rui Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Juscelino Kubitschet são alguns dos nomes biografáveis. O cardápio mescla pratos novos com os produzidos desde a sua fundação, entre eles a coxa creme, empadas de camarão, quitutes e quindim de camisola. O chef Renato Freire, que está à frente da cozinha há 10 anos, ressalta o sucesso da confeitaria: "Procuramos aproximar a tradição e o pioneirismo com o gosto do público. Isso acontece desde o início, já que foi aqui que surgiu o bordão: o cliente tem sempre razão".

Atualizado em 7 Ago 2012.