Apaixonada por brigadeiro, Juliana começou a elaborar os doces só por hobby. As misturas e sabores diferentes eram tão gostosos, que depois de levar alguns docinhos na festa de aniversário do filho da amiga, recebeu uma encomenda de mil brigadeiros. "Achei que não ia dar conta", fala ela que depois da entrega, começou a levar a sério os brigadeiros e acabou proprietária do ateliê Maria Brigadeiro, onde vende mais de 40 tipos de receitas, todas criadas por ela.
Formada em Jornalismo e Gastronomia, a moça responsável pelos brigadeiros deliciosos tinha pretensões maiores que o simples chocolate ao leite. Juliana inova nas receitas, cria novas misturas e ousa nos sabores, como a invenção feita de chocolate com wasabi ou curry. Chocólatra, ela assume que come o doce todos os dias e não enjoa. Ao Guia da Semana a doceira conta como vê o brigadeiro além do docinho da festa de criança.
Guia da Semana: Como começou seu interesse pela cozinha?
Juliana: Eu sempre adorei a cozinha. Minha avó é doceira e essa influência veio muito dela. Gostava muito de ficar com ela enquanto fazia os doces de compota. Ela ia me ensinando, falando das receitas. Foi ela quem me ensinou a fazer brigadeiro quando eu tinha seis anos.
Guia da Semana: Foi ela que te ensinou as receitas diferentes?
Juliana: A especialidade dela era o doce de leite, e as vezes ela usava o leite condensado caseiro, que é a primeira etapa do doce de leite, para fazer o brigadeiro. As receitas dela tinham toques especiais e eu fui aprendendo isso. Aquilo me encantava.
Guia da Semana: Você virou a cozinheira oficial de brigadeiro na sua casa?
Juliana: Eu adorava fazer, minha mãe não conseguia me segurar de jeito nenhum! Todas as festas de família e de amigos eu fazia o brigadeiro e levava, porque era o que eu gostava de fazer. Ao invés de sair e comprar um presente, eu fazia os brigadeiros e colocava em uma bandeja com uma fita, fazia tudo customizado.
Guia da Semana: Você é chocólatra?
Juliana: Eu sou muito chocólatra e tenho que comer brigadeiro todos os dias. Quando eu viajo levo uma malinha só de chocolate. Eu consigo comer todos os dias, não consigo comer o brigadeiro enrolado, mas consigo comer na panela. Tenho um método na Maria Brigadeiro, nós tiramos uma ficha técnica de todas as receitas, o segredo maior. A pratica que eu adotei, é provar o brigadeiro o tempo todo, porque as vezes, como usamos muitos tipos de chocolate, manteigas diferentes, pode ficar mais forte do que o outro, ou com mais açúcar. Todo mundo que trabalha na Maria Brigadeiro come muito brigadeiro, e essa é a premissa, quando eu contrato alguém pergunto para a pessoa se ela gosta de brigadeiro, se ela gosta muito de brigadeiro a ponto de comer todos os dias. Minha coisa favorita é comer ele quente na panela.

Guia da Semana: Além da faculdade de Gastronomia você também é formada em Jornalismo. Como foi isso?
Juliana: Eu sempre encarei o brigadeiro como um hobby. Sempre gostei muito de cozinha, mas nunca havia feito um curso de gastronomia, antes de fazer a faculdade. Na época que eu comecei com o brigadeiro, culinária não era profissão e acabei seguindo a trilha da minha mãe que era jornalista. Trabalhei 10 anos na área como editora de comportamento. Na época, na redação, as pessoas não gostavam muito de fazer matéria de culinária, eram matérias consideradas menores, ainda mais em revista semanal. Como eu gostava, pedia para fazer e acompanhava as fotos, o preparo dos pratos, e fazia as matérias de culinária, paralelamente com as de comportamento. Era algo que eu gostava muito de fazer.
Guia da Semana: E como veio a faculdade de Gastronomia?
Juliana: Sempre que eu tirava férias ou tinha uma folga eu fazia cursos de culinária, mas sempre ligados a doces. E no meio disso fiz a faculdade, que acabou não sendo o que eu esperava. Mesmo com tudo isso, eu ainda não tinha assumido o brigadeiro como profissão, era só um hobby mesmo, até porque não fiz a faculdade para mudar de profissão, mas para me aprimorar.
Guia da Semana: Por que o brigadeiro?
Juliana: O brigadeiro é meu doce favorito, o que eu mais gosto de todos os doces, mas percebia que ele não era muito valorizado. A nossa gastronomia foi melhorando muito, principalmente a parte de patisserri, que era absolutamente pobre. A coisa foi melhorando e eu fui vendo como o brigadeiro destoava dos demais doces. A gente via o chocolate belga entrando no país, todo mundo usando como um ingrediente básico, e as pessoas ainda fazendo brigadeiro com achocolatado, que tem uma porcentagem baixíssima de chocolate. Percebi que dava para valorizar esse doce. Achei que provando outras coisas fora do país dava para criar novas receitas. Comecei a incrementar, minhas receitas já eram diferentes, eu nunca usei chocolate granulado, que nem é um chocolate, é um confeito artificial. Eu fazia brigadeiro com raspa de chocolate, usava manteigas diferentes e vários tipos de chocolates. Fui aplicando as técnicas que eu aprendi e gostei do resultado, vi que o brigadeiro ficava mais saboroso e ganhara um espaço maior nas festas.
Guia da Semana: Você acha que o brigadeiro tinha pouco espaço?
Juliana: Ele sempre foi considerado um doce infantil, até por ser muito doce. Acho que por conta disso ele ficou estigmatizado e a receita dele parou ali, não foi aprimorada. Eu via entrando no Brasil macarron e trufas como sobremesas e o brigadeiro continuava só nas festinhas infantis. Foi aí que comecei a campanha do brigadeiro; mudava a receita, inventada novos sabores.
Guia da Semana: Foi assim que surgiu a Maria Brigadeiro?
Juliana: A Maria Brigadeiro começou em uma festa. Era aniversário do filho de uma amiga minha e levei oito receitas diferentes. Tinha chocolate branco, pistache, avelã, 70% cacau, entre outros, e as pessoas acharam aquilo super diferente, ninguém nunca tinha visto e eu achava que o brigadeiro tinha muito potencial. Se ele é só tradicional, é só um docinho, mas se tem várias possibilidades, ele se transforma em vários doces e pode até substituir outros que a gente não tem uma relação afetiva muito forte. Nessa festa várias pessoas vieram perguntar se eu vendia e eu falava que não, até que quando a terceira pessoa veio perguntar eu disse que vendia. Ela pegou meu telefone e falou que me ligaria. No dia seguinte me ligou e fez uma encomenda de mil brigadeiros para dali uma semana! Para a Maria Brigadeiro hoje, mil não é nada, a gente faz 4 mil, mas na época eu achava que não ia conseguir. Fiz os brigadeiros e a partir desse dia tive várias encomendas, comecei a fazer lançamentos de livros, lançamento de coleção, hoje tenho uma parceria com o Alexandre Herchcovitch. Foi assim, as pessoas foram conhecendo, indicando uma para a outra e assim nasceu a Maria Brigadeiro.

Guia da Semana: Como são os brigadeiros oferecidos na Maria Brigadeiro?
Juliana: Eu uso material de muita qualidade. Viajo, vejo algo que eu gosto, faço o teste, vejo se dá certo. São 40 receitas atualmente, tenho várias categorias, de castanha do Pará, de caju, pistache, avelã; tem os etílicos de vinho do porto, champagne, saquê; os clássicos que são os que mais gosto de fazer como o tradicional, 70% cacau, chocolate branco.
Guia da Semana: Você também tem receitas exóticas?
Juliana: Sim, todas as receitas exóticas surgiram de experiências que eu tive. O de wasabi me pediram para fazer a sobremesa de um jantar em comemoração ao centenário da imigração japonesa. Eles queriam um brigadeiro, e na hora de fazer quis colocar um elemento oriental e tive a idéia de colocar o wasabi. Fiz o teste, vi que ficava bom, e as pessoas que comeram nesse jantar começaram a me pedir, mas não tinha esse no meu cardápio, achava ele muito exótico, que não tinha nada a ver. Dentro do contexto do jantar foi muito legal, servi os brigadeiro com hashi, mas não era um dos meus favoritos, só que as pessoas começaram a pedir. O wasabi é uma coisa muito engraçada, porque ele combina muito com o brigadeiro, e ele está no cardápio porque para mim ele é um desafio, mostrar para as pessoas que o brigadeiro é tão versátil, que ele combina até com raiz forte.
Guia da Semana: Essa é a mais exótica?
Juliana: Tem receita com funghi, flor de sal, pimenta, especiarias indianas, que é com curry, gengibre. Tem uma receita nova agora, que é a novidade de verão, que é com limão siciliano e que está fazendo muito sucesso. A nossa sugestão é que a pessoa coloque na geladeira e coma gelado.

Guia da Semana: As embalagens também são bem diferentes, assim como as receitas. Você que produz tudo?
Juliana: Eu procuro ter um atendimento bem personalizado, então às vezes as pessoas ligam e falam o que querem, e eu acabo desenvolvendo coisas diferentes. Uma cliente uma vez pediu para fazer algo para dar na maternidade, e eu criei um recipiente que lembra um potinho de papinha, para comer com a colher. Uma outra cliente queria uma coisa diferente para um chá de panela, ai surgiu as panelinhas para comer com colher também. As marmitas surgiram quando eu fui dar um presente para um amigo. Eu costumava dar em uma bandeja de bolinhas, e quando ele fez aniversário eu só tinha bandejas de bolinhas femininas. Não dava para ser a embalagem para homem, aí fiquei olhando na cozinha e procurando onde colocar os brigadeiros para ele. Foi quando vi uma marmita que eu usava para guardar tempero. Bati o olho nela, coloquei os brigadeiros lá e amarrei um pano de prato.
Guia da Semana: É verdade que você faz brigadeiro para suas amigas quando elas estão de TPM?
Juliana: O brigadeiro é a única coisa que acalma a TPM. Fiz até um anuncio da Maria Brigadeiro uma vez, o primeiro, que falava assim: Brigadeiro gourmet para festas, eventos e crises agudas de TPM! Porque eu acho que é a única coisa que cura. As amigas que moram perto, eu costumo fazer uma panela de brigadeiro e levar o brigadeiro quente mesmo.
Guia da Semana: Qual é o próximo passo da Maria Brigadeiro?
Juliana: Agora a Maria Brigadeiro vai ter uma loja nova, que vai inaugurar em fevereiro, na Capote Valente, em Pinheiros. O que eu vou servir lá é brigadeiro quente, uma coisa que eu adoro e não encontro em lugar nenhum. Então você vai chegar lá e encontrar brigadeiro quente, que é um delírio. Quem é chocólatra e gosta de brigadeiro ama brigadeiro quente.
Serviço
Maria Brigadeiro
Telefone: 11. 3085-3687 / 3062-9602
Atualizado em 7 Ago 2012.