Guia da Semana

Cuidado no supermercado!
Fotos: www.sxc.hu

Consumidores, atenção: tem molho de tomate com pêlo de roedor (leia-se: rato ou camundongo) no supermercado! O pior é que essa afirmação não é recurso para começar a matéria, tampouco é falsa. Quem nos alertou sobre ela foi Alessandra Macedo, coordenadora da área técnica de produtos do Pró-Teste, uma associação independente que verifica a viabilidade de certos alimentos para consumo. Segundo ela, em um recente teste realizado pelo órgão, descobriu-se que uma conhecida (sim, famosa) marca de molho de tomates estava com um conteúdo, diga-se, nojento dentro de suas latas. "Encontramos pêlo de roedor no alimento, mas a empresa não aceitou o teste. Está com um processo contra a associação", diz ela.

Latinhas: um perigo
O grande problema é que a notificação do Pró-Teste não obriga a empresa em questão a retirar seu produto do mercado. É preciso que um órgão governamental, como a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, faça sua própria fiscalização e, para isso, a legislação brasileira falha mais uma vez. É até difícil de acreditar, mas grande parte dos alimentos industrializados não precisam de registro da Anvisa ou do Ministério da Agricultura para chegarem às prateleiras. "Desde 2000, somente os produtos ditos funcionais, como os que têm adição de nutrientes, fibras ou organismos vivos, e os com informações terapêuticas ou restritivas [como os específicos para diabéticos ou celíacos, por exemplo] é que são obrigados a ter registro", afirma Ana Paula Peretti, gerente-substituta de produtos especiais da Anvisa.

Isso quer dizer que todas as outras categorias de ingredientes não são avaliadas ou fiscalizadas antes de chegar ao consumidor - o que, de qualquer maneira, só acontece se houver uma denúncia. "A partir daí é que fazemos o monitoramento e, se a indústria não seguir o regulamento de boas práticas [disponível no site da Agência], pode ter que pagar desde uma multa até encerrar as atividades", diz Ana Paula.

Enquanto esse processo todo se desenrola, consumidores comuns até podem encontrar um cabelo ou um pedaço de vidro visível em uma lata de ervilhas; mas as bactérias e os pêlos de roedores que, porventura, forem "ingredientes" do produto, ficarão lá, sem ser notados a olho nu. "A legislação é muito falha. Primeiro, não existe fiscalização de todos os produtos. Segundo, não há regras específicas para rotulagem: não existem critérios para dizer se um pão de queijo pode ser chamado como tal. Terceiro, a Anvisa e o Ministério da Agricultura têm leis diferentes para um mesmo produto. Logo, se um fabricante produz algo mais condizente com a lei da Anvisa, é para ela que vai enviar suas amostras para fiscalização, não é?", questiona Alessandra, do Pró-Teste, que, além do pêlo no molho, já encontrou componente não-diet em refrigerante dito como tal e listeria em queijo-minas - um microrganismo que pode levar ao aborto.

Casos como esses citados por Alessandra são pontuais, não tão freqüentes. Comuns mesmo são as surpresas desagradáveis encontradas nos alimentos refrigerados e congelados - que, se tiverem uma modificação de temperatura, já começam a desenvolver a cultura de alguma bactéria - e, principalmente, nos que estão expostos nas gôndolas dos supermercados, como frutas, carnes e todo tipo de ingrediente a granel. Esses costumam vir, quase sempre, com o mesmo brinde: coliformes fecais ou, entre outras palavras, resquícios de fezes. "Eles são o que mais encontramos nas análises", diz ela.

CUIDADOS NA HORA DE COMPRAR
? Data de validade: o produto absurdamente mais barato pode estar com a data de validade muito próxima. Dê preferência aos alimentos que ainda possuem um bom período de validade - eles geralmente estão no fundo das prateleiras.

? Embalagens: latas e caixas devem estar em perfeito estado. Lata amassada é sinal de risco: nos pontos amassados podem ter se formado micro-poros que facilitam a entrada de bactérias.

? Rótulo: veja se o rótulo condiz com a tabela de ingredientes do produto. Se a informação não estiver clara ou for duvidosa, não leve. No rótulo deve haver nome e endereço do fabricante e número de lote. Se não tiver, compre de outra marca.

? A granel: ao comprar alimentos de gôndola ou de sacolão, analise o local. Veja se está limpo, se os funcionários estão paramentados com touca, luvas, máscaras e se há uma pia próxima para que eles possam lavar as mãos. Só compre os alimentos se essas condições forem atendidas.

? Refrigerados redobre a atenção com queijos, iogurtes e demais alimentos resfriados ou congelados. Verifique a data de validade e não os deixe fora da geladeira por muito tempo.

? Praia: evite comer produtos vendidos lá. Leve de casa. Camarões, ostras e queijo coalho, em contato com o sol, são perigosos para a saúde.


Ostra: na praia, não!
Antes de comer, pare e pense
No dia 23 de julho último, o percussionista da Banda Eva, Fabrício Scaldaferri, de 29 anos, comprou e comeu as ostras de um vendedor de praia. Horas mais tarde, o artista passou a mal e foi levado para o hospital. Morreu na tarde do dia 24, depois da evolução de uma infecção intestinal, provavelmente provocada pelas ostras contaminadas. "Na praia, os vendedores estão suados, sem a roupa adequada, o alimento fica no sol, é claro que é perigoso. Acho um absurdo quem come camarão ou queijo coalho na praia. Nesses locais, o melhor a fazer é levar sua comida de casa", alerta Alessandra.

Refrigerados-problema
Em lugares como a praia é impossível fiscalizar o que se come. Por isso, vale o bom senso na hora de decidir o que será consumido ou evitado, já que as conseqüências vão de uma caseira diarréia até uma infecção, como a que atingiu Fabrício. "Às vezes, as pessoas têm diarréia e nem sabem por quê. Geralmente, nem vão para o hospital e, por isso, é impossível sabermos quantas pessoas já foram contaminadas por alimentos no país", afirma. Acabar com o problema e com a má vontade de certos fabricantes, que não seguem as normas de boas práticas - já que não são fiscalizados por isso -, é difícil. Ficar de olho no que se compra ou se associar ao Pró-Teste pode ser uma ajuda e tanto. Veja como funciona o órgão:

DENUNCIE!
O Pró-Teste, ou Associação de Defesa do Consumidor, é um órgão independente, sem fins lucrativos, que analisa produtos indicados por seus associados - para se associar, basta se cadastrar no site e pagar uma taxa de anuidade. A partir das sugestões, a equipe de técnicos compra uma amostra do produto determinado no supermercado, leva para o laboratório e aplica o teste.

Todos os resultados são divulgados em uma revista distribuída aos próprios associados e, vez ou outra, chamam a atenção da mídia. Antes disso, se o teste diagnosticar que o fabricante não seguiu as boas práticas, é enviada a ele uma notificação e, dependendo do caso, a Anvisa ou o órgão competente é acionado para aplicar multas ou retirar o referido produto do mercado.

Se você se interessou em ser um associado, acesse o site: www.proteste.gov.br. No site da Anvisa e nos centros de Vigilância Sanitária dos municípios ou Estados também é possível denunciar alimentos que vieram com "brindes indesejáveis" em suas compras.


Atualizado em 7 Ago 2012.