Guia da Semana


Para muitas pessoas, o cafezinho de todos os dias significa uma fonte de vigor para encarar a rotina diária no trabalho, nos afazeres domésticos e nos estudos devido a seu conhecido efeito estimulante do sistema nervoso central. Mas o que poucos sabem é que a bebida também pode virar sinônimo de prevenção de demências, doenças degenerativas e até depressão, segundo pesquisas promovidas em diversos países, que avaliam o quanto o café e suas substâncias podem interferir de maneira benéfica no cérebro.

Segundo um estudo populacional promovido nos Estados Unidos, conhecido como "pesquisa das enfermeiras", por ter observado pessoas desta profissão, verificou-se menor incidência de depressão profunda e de suicídio entre aquelas que consumiam café com frequência. Uma avaliação semelhante feita pelo cientista Tomas De Paulis, da Universidade Vanderbilt, em Nashville, mostrou que crianças que tomam café com leite ao menos uma vez ao dia têm menos chance de desenvolver a doença do que aquelas que não o bebem nunca.

No Brasil, uma pesquisa realizada entre 1987 e 1998, que envolveu mais de 100 mil estudantes de 10 a 18 anos chegou a conclusões parecidas. Coordenador de tal estudo, o Dr. Darcy Lima, professor de Farmacologia e História da Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende que o café pode, sim, ajudar a diminuir a incidência da depressão, considerada por ele o "mal do século".

"A depressão é uma doença seríssima e tem que ter um tratamento especializado. O café não cura, não é remédio. Mas, da mesma forma que quem faz exercício tem menos chance de sofrer um infarto, quem toma café moderadamente, de 3 a 4 xícaras por dia, está menos propenso à depressão e ao suicídio do que quem não toma. É um dado epidemiológico", diz o médico.

Lima defende que a cafeína, famoso componente químico do café, não é o único agente que explica a diminuição dos casos de depressão entre os consumidores da bebida. Segundo ele, há outros compostos que, mediante à torra adequada do café, também apresentaram resultados positivos na prevenção dos sintomas da doença.

"Não é só a cafeína. Refrigerante, isotônicos e energéticos também têm cafeína e não previnem a depressão. Há uma química adicional natural ao café que está evidenciando efeitos antidepressivos a longo prazo", disse ele. "Há os ácidos clorogênicos, que formam vários outros compostos conhecidos como lactonas, que também formam derivados chamados ácidos cafeicos. Há cerca de dois anos, um grupo de cientistas japoneses o testou em ratos e pessoas e viu que houve um efeito antidepressivo", exemplifica.

Contudo, tal hipótese ainda não é consenso entre a comunidade médica. Segundo Alfredo Maluf Neto, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, o café não só não previne a depressão como pode acentuar seus sintomas e causar até mesmo dependência.

"O café é um estimulante do sistema nervoso central, um excitante. Ele não previne a depressão, mas pode até mascarar os sintomas", alerta. "Cada vez mais a pessoa vai precisando de estímulo, se sentindo mais cansada, mais apática, a atenção e suas habilidades diárias (são afetadas) e tudo isso vai causando uma estafa que pode piorar a situação de depressão".

Além do risco de dependência, especialistas apontam irritabilidade, nervosismo, gastrite e insônia como resultado do consumo excessivo de cafeína. Contudo, Darcy Lima desmente a idéia de que a substância está relacionada a males como infarto do miocárdio, colesterol e alteração nos níveis de glicose no sangue e defende que a ingestão de doses entre 400 a 500 mg por dia, o equivalente a 3 a 4 xícaras, não é prejudicial à saúde do indivíduo, seja qual for sua idade. Bem, enquanto não se chega a um consenso a respeito dos efeitos médicos do café, convém não abusar em seu consumo e evitar usá-lo com fins farmacêuticos, para que, deste modo, o prazer do cafezinho de cada dia não se torne uma dor de cabeça.

Foto: Getty Images

Atualizado em 7 Ago 2012.