Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira/ Guia da Semana

Dificilmente você escutará alguém dizer que sua cozinha preferida é a chinesa. Ou que seu prato favorito é um yakssoba ou então um frango xadrez. Por preconceito, falta de conhecimento ou apenas por uma simples questão de preferência, a gastronomia do país mais populoso do planeta passa longe de ser uma das preferidas dos gourmets.

Entretanto, com a chegada das Olimpíadas, a partir de agosto, os restaurantes especializados já se preparam para um aquecimento nas vendas e na difusão de sua cozinha entre os consumidores brasileiros. Com 13 anos, a rede China House, uma das mais conhecidas da cidade de São Paulo, espera por um crescimento de aproximadamente 10%.

De acordo com Jorge Torres, franqueador da marca, a forma maçante com que a cultura chinesa vem sendo apresentada na mídia graças aos Jogos faz despertar o apetite dos brasileiros por conhecer tradições, história e, principalmente, a gastronomia do país. "O povo chinês é muito retraído e isso prejudicou a difusão de sua cultura", diz o executivo da rede que acredita ser este um dos principais motivos por uma cozinha tão rica não estar entre as mais apreciadas. "Os pratos possuem um colorido e um corte especial que enfeitam e encantam os olhos de quem os consome", saliva.

Aproveitando essa "época de cozinha chinesa", a China House colocou no cardápio de seus dez estabelecimentos, em São Paulo - até o fim do ano deve avançar para outros Estados - um prato exclusivo: Lombo Pequim, feito com massa leve, temperado com molho shoyu e gengibre ( foto acima). Além da novidade, a clientela da casa poderá torcer pelos atletas brasileiros, assim como para os chineses, saboreando outras delícias tradicionais, como Frango xadrez e o Yakssoba.


Ganhando as ruas
Barracas de lanches com cheeseburguer, cheesesalada, cheesebacon, hot dogs já fazem parte da paisagem de toda grande cidade.

Mas já não é de agora que se percebe, principalmente pelo cheiro, que o Yakssoba está fisgando o estômago de muita gente apressada, sem tempo para uma pausa em um restaurante. O prato, cujo nome é japonês, porque o verdadeiro em chinês é quase impronunciável, leva macarrão, cebola, carne desfiada, repolho, entre outros ingredientes, dependendo da forma de preparo.


Para Torres, poder provar assim, em qualquer lugar, um prato tão comum da cozinha chinesa pode ajudar a aumentar a fome dos brasileiros por pratos típicos.

"Quem come em uma barraquinha acaba indo no futuro a um estabelecimento", projeta. Mas pondera, pois acredita que por serem barracas à margem de sujeira e poluição também pode afastar de vez alguns possíveis clientes.


Hora de limpar a casa
Por falar em sujeira, esse foi o maior agravante na pouca disseminação da cozinha chinesa no Brasil. Pelo menos é o que garante Kelly Wong, proprietária do Hin Pin Shan, restaurante chinês localizado em São Paulo, no bairro da Vila Olímpia. Segundo ela, nascida em Hong Kong e no Brasil há quase 30 anos, os primeiros imigrantes chineses que abriram restaurantes por aqui não contribuíram para a imagem do país. "Tenho que admitir que antes era tudo sujo".

Isso, segundo Kelly, gerou uma má fama transferida a todo cidadão chinês. "Hoje é diferente", diz. "A limpeza da cozinha dos estabelecimentos melhorou 60%. Aqui já é tudo inox, e eu ainda convido para entrar na cozinha".

Torres também concorda, porém aponta outro problema. Apesar de muito diferentes, tem brasileiro achando que japonês e chinês (restaurantes) é a mesma coisa. "Em nosso País, existe esta confusão". Para ele, o consumidor associa o preço dos pratos chineses aos japoneses, que são mais caros.


Que nojo!
Por ser o país mais populoso do mundo, com mais de um bilhão de pessoas, a China possuí regiões gastronômicas distintas. O sul tem características diferentes do norte, que difere da leste e da oeste. Para entender, o mesmo acontece no Brasil, onde a comida baiana em nada lembra os tradicionais churrascos e o chimarrão preparados no Rio Grande do Sul.

E é lá no extremo sul, na região de Guangdong, também conhecida como Cozinha do Cantão, que se comem pratos, digamos, um pouco diferentes dos tradicionais, conhecidos por nós, ocidentais. Na província pode-se degustar saborosas cobras, focas, macacos e mais uma grande lista de animais da fauna local.

Fez cara de nojo? Pois saiba que nos restaurantes de lá ainda é possível pedir ao garçom filé bem passado de cachorro ou um picadinho de gato. Porém, segundo Kelly, de forma clandestina. "Há restaurantes que servem estes animais, mas é proibido". Quem aprecia este tipo de comida diz ao garçom que deseja o prato, já que não está disponível no cardápio. Mas, de acordo com Kelly, tudo às escondidas.

Essa lenda de que em todo restaurante chinês serve-se bichinhos de estimação também contribuiu para matar de vez o apetite de muita gente pela comida chinesa, segundo o executivo da China House. "Para acabar com esses mitos, nossas cozinhas possuem um vidro de onde o cliente pode acompanhar o preparo dos pratos pessoalmente, se desejar", faz ele o convite.

***

Onde torcer
China House - Unidade da Mooca
Hin Pin Shan - Vila Olímpia

Atualizado em 7 Ago 2012.