Guia da Semana

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O vinho é eminentemente uma bebida social. Faz parte do prazer dividi-lo com amigos, selar negócios e uniões. Em uma mesa, o vinho só começa a ser bebido quando se erguem as taças em um brinde. Tomar vinho é bom mesmo com os mais próximos, o que faz parte da essência dessa bebida tão festiva e social. Por isso se multiplicam a formação das "confrarias".

Grandes sociedades vinícolas têm suas confrarias formais com roupas especiais para honrarem uma bebida e na verdade parece uma grande festa à fantasia! (Isso porque eu ainda não estou em nenhuma delas, senão me emocionaria às lágrimas). Assim acontece na tradicional Confraria Do Vinho Do Porto, com direito a capa, chapéu, tomboladeira com fita nas cores da bandeira portuguesa e rígida hierarquia, com estatuto que prega "difusão, promoção e consolidação do renome mundial do Vinho do Porto". Uma legião de pessoas importantes, incluindo reis e presidentes de países, faz parte dela. Para vocês verem como o assunto é levado a sério!

A formação de importantes confrarias de apreciação de vinhos pelo mundo data do século XX e, no Brasil, as mais antigas são do início dos anos 80, como a nossa SBAV-SP, a mais antiga delas, fundada por vários ilustres apreciadores de vinhos, entre eles meu amigo Carlos Cabral, da Confraria do Vinho do Porto, o primeiro brasileiro a fazer parte desta que é uma das mais prestigiosas do mundo com o grau mais elevado que a entidade outorga.

Participar de uma confraria é uma deliciosa forma de degustar e conhecer novos rótulos. Desde quando comecei a conviver nessa área, há 15 anos, quis fazer parte de uma, mas não entendia porque elas reuniam somente homens e raramente casais. Mais recentemente, apareceram várias formadas por mulheres e continuei sem entender. Por que a separação? Agora faço parte de três grupos, basicamente, sendo a mais recente, um de mulheres brilhantemente apelidadas de "As Safradas", nome criado antes de eu entrar. Agora entendo a segregação dos sexos. Não queremos nos ver livres de nossos companheiros ou eles de nós, mas estes momentos de liberdade para falar com seus pares, sem censura, sem ninguém para nos por limites é muito legal. De certa forma parece que o compromisso dos confrades em participar é maior e raramente eles faltam.

Já vi confrarias de casais se desfazerem porque como um não pode ir, o outro não vai ou o caso de uma confraria que se desfez, porque um participante começou a namorar uma pessoa que os outros não aprovaram e nada mais deu certo.

Essabebida é a estrela do encontro independente de as conversas girarem em torno dele ou não. O gostoso é unir a oportunidade de tomar vinhos especiais, acompanhados de pratos que harmonizam, com pessoas alegres e nos divertirmos! Ufa, o que nem sempre conseguimos fazer nestes dias. Cada confraria deve ter o seu tema, por exemplo, na última reunião das Safradas o tema foi "Piemonte". Fiquei encarregada do espumante e não conhecia nenhum dessa região. Achei um Giulio Cocchi e adoramos. Uma colega trouxe um Barolo Fontanafredda 03. Divino. A noite, com ajuda da sommelière Eliane Araujo, e pratos do novo restaurante da maravilhosa chef Bel Coelho, foi ótima.

Existem confrarias e confrarias. As formais como a Confraria do Sommeliers, coordenada pelo meu amigo Didu, existe há dez anos e reúne profissionais da área de restaurantes com critérios rígidos de participação dos confrades. Sempre se degusta um tipo determinado de vinho e algum confrade fica incumbido de fazer uma palestra sobre o tema. Nesse caso, há um importante interesse profissional por trás do prazer de reunir pessoas e conviver com seus pares. Há também confrarias descontraídas, como a minha ou a do meu confrade João Felipe Clemente (outro grupo do qual participo que não faz discriminação de sexo).

Seja como for, o vinho tem mais essa qualidade. Além de fazer bem para a saúde, ser gostoso, tornar o prato mais saboroso e relaxar, ele promove encontros. Não importa o seu gosto, se prefere os tintos brancos ou mesmo os vinhos doces, tão desprezados pelos críticos, o que importa é se reunir em torno do que te dá prazer. E em geral, o vinho está sempre lá! Brindemos a isso!

Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.

O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.

Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!

Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.

Fale com ela: denise @denisecavalcante.com.br

Atualizado em 7 Ago 2012.